quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Infância Clandestina

Ontem,  dia de Natal,  fui  assistir a este excelente filme argentino que foi  um  dos indicados para  filme estrangeiro  do Oscar 2013.


Tem uma reportagem  na Folha que  fala sobre este filme e relata produções sobre o mesmo  tema,  Infância e ditadura militar,  produzidos no  século XXI,  e que eu  tive o privilégio de assistir todos, que são maravilhosos,  sem exceção,  cade um  à sua maneira. Inclusive eu  escrevi  um  post sobre o Machuca em  2005,  no primeiro ano  do  Blog (na época que eu  escrevi  com  certa regularidade).

Embora eu  seja suspeita,  pois até hoje não  teve  um  filme  argentino  que assisti  e  não  gostei, o "Infância"  superou  minhas expectativas. O  meu  termômetro pr saber o  quanto  um  filme me agradou  é  quantas vezes eu  vejo  as horas no  meio  do filme e quanto  tempo  demora ora que isso  aconteça,  e no  Infância eu  só  fui  checar as horas bem  no  finzinho  do  filme,  o  que considero  bem  tarde pros meus padrões. Se o  filme é ruim , na primeira meia hora eu  já estou  pegando  o celular.  Se é bom, geralmente após a primeira hora eu  dou  uma olhadinha.



A  história é  contada sob a ótica de um  menino de uns 11  anos, Juán,   sobre a trajetória de exílio  e luta guerrilheira dos pais,  e  sua adaptação às diversas fases de sua vida,  desde os anos de exílio,  longe dos pais,  até o  retorno  à Argentina nos anos de chumbo  da ditadura,  quando  precisa mudar de nome e identidade  para viver em  segurança.  Juán vira Ernesto que tem passaporte falso,  e convive com  as ações   guerrilheiras dos pais  e tio. Transita entre esse mundo  de ideias  libertadoras,  aos quais é  sensível,  e seu  próprio  desenvolvimento  pessoal  e emocional.

Uma das coisas bacanas do  filme é que,  apesar de ser contado sob a ótica de uma criança,  ele não  poupa o espectador  da realidade nua e crua da ditadura,  porém  usa um  recurso  muito interessante que é o  uso  quadros de animação tipo  quadrinhos de  adultos  para retratar essas cenas,  o  que tira um  pouco da dureza  da situação,  sem deixar de retratá-la  com  seu devido realismo. Normalmente os filmes que abordam  essa temática  acabavam  não  mostrando  cenas de violência,  ou  quando  mostravam  era de maneira bem  suave, ou  câmara lenta no  final  do  filme.  Acho  que este senso  de realidade do  filme, sem  chegar a ser cruel ao  extremo e mostrar  coisas que ninguém ia querer ver, é o  ponto  forte dele. Talvez por ser um  filme autobiográfico,  pois o diretor viveu  estes anos  de ditadura,  então  ele melhor que ninguém sentiu na pele o  que foram  aqueles anos.  Interessante foi  mostrar  Juán  consciente e ávido  por  saber de tudo  que se passava, ouvindo  por trás  das portas discussões dos pais  e reuniões de guerrilha,  pedindo  para lhe contarem  tudo  que se passava,  apesar dos efeitos que isso  causava no  seu psicológico,  demonstrados por  cenas retratadas magnificamente  por meio dos sonhos de Juán.

Acho  que se já não  houve,  está na hora de algum curador organizar uma mostra com  filmes sobre este tema,  pois os que foram  feitos na última década  são  belos exemplos deste período.





segunda-feira, 29 de agosto de 2011

22o Festival Internacional de Curtas Metragens

Este blog pelo  que parece está se configurando  um  blog sobre o festival  de curtas. Foi  a última coisa que postei  ano passado  e só  reativei  agora com o  mesmo  assunto. Não  que não  tenha ido  ao  cinema, mas pra ser sincera,  tenho  ido  pouquíssimo.  E assim  fico até desmotivada pra escrever resenhas de longas. Mas os curtas são  uma paixão  antiga,  e todo  ano faço  um esforço  supremo  pra ir no  máximo de sessões possível.
As resenhas  sobre os curtas também escrevo  pra que eu  me recorde dos filmes no  futuro, pois como vejo   muitos em  um  espaço  de tempo  curto, é uma maneira de perpetuar a memória  deles.
Notei  também  que tenho alguns visitantes estrangeiros  de lugares longínquos, possivelmente pessoas envolvidas nos curtas que cito  aqui. Vou tentar escrever algumas resenhas em  inglês,  ou  ao  menos deixar uma mensagem  de boas vindas para eles.
Pra você que está passando  por aqui  pela primeira  vez,  o  Cinematografia é  um  blog nascido  no  fim  de 2004 e cuja proposta inicial  era ter resenhas sobre filmes  vistos por  mim,  em  cartaz  na cidade.  Escrevi  resenhas com uma certa frequência  durante cerca de sete meses,  até que  me   mudei pros EUA . Só  assisti  DVDs nos dois anos em  que vivi lá  pois não  havia cinema  alternativo  na cidade onde morei, então  eu  não  tinha outra opção. Porém  não  escrevi   resenhas sobre filmes em  DVD,  pois aqui  no  Brasil só  os vejo  na telona,  na sala de projeção. Então  o  blog  mudou de foco  neste período  dos EUA  e escrevi  um  pouco  sobre a vida nos EUA e  sobre minhas experiências lá.
De volta ao  Brasil,  nunca mais  consegui  frequentar as salas de cinema com  a mesma frequência que ia antes dos  EUA. Por isso  o  blog  ficou  desativado.  Ano  passado,  resolvi  ressuscitá-lo. Escrevi  umas poucas resenhas  e  fiz o  resgistro  do  festival de curtas,  que foi  a época que mais  frequentei as salas de cinema da cidade.  Não  perdi  o interesse por cinema,  porém  a vida está corrida demais, e o  tempo que eu  costumava dedicar ao  cinema (noites da semana)  está sendo  ocupado  por trabalho  e estudos. Fim  de semana me mantenho  longe das salas,  pois não  suporto  filas,  multidões e salas barulhentas.  Logo, minhas idas ao  cinema rarearam.  Quem sabe em breve eu  volte a ir com  mais  frequência,  e  igualmente ser mais  assídua aqui  neste blog também.
A você que está de passagem por aqui, deixe seu  recadinho  e seja benvindo. A você que é visitante regular,  benvindo  de volta.  O  seu  comentário  é um  incentivo  muito grande,  então  se leu  algo  que gostou ou  não, deixe uma palavrinha,  assim  eu  não  fico  com  a eterna  impressão  que isso  aqui  não  serve pra nada.  Nem  que seja um  simples oi. Abração !



terça-feira, 7 de setembro de 2010

Festival de Curtas - Internacional 10

Uma mostra que começou e terminou  muitíssimo  bem,  com  alguns filmes medianos  no  caminho e um  realmente que não  entendi.   Mas por  ter sido  a última seleção,  e coincidentemente a últmia que assisti,  terminou  deixando  uma ótima impressão,  pois o  último  filme  foi  certamente um dos melhores  de todos.
Embora não  tenha sido  o tema único  dessa mostra,  acho que a questào  da violência e abuso  de criança e adolescente volta a aparecer aqui, pelo  menos em  três filmes.

Sinna mann / Homem raivoso

Filme selecionado para a programação do Festival


Anita Killi
Noruega, 2009
20' - Cor
35mm

Um filme sobre segredos que não deveriam ser segredos. Quando a mamãe-peixe morre, Boj não suporta e encontra forças em sua própria fantasia para continuar.

* Prêmio do Público, Festival du Court-Métrage, Clermont-Ferrand, 2010 / Melhor animação, Festival du Court-Métrage, Clermont-Ferrand, 2010 / Prêmio do Público, Annecy Int. Animation FF, Annecy, 2010 / Prêmio do Júri, Annecy Int. Animation FF, Annecy, 2010 / Prêmio Unicef, Annecy Int. Animation FF, Annecy, 2010

Belíssima animação  sobre violência  infantil. O Homem raivoso  é o  pai  de Boj,  que quebra a casa e bate na mãe em  seus acessos de fúria. Boj então consegue  vencer a  barreira do  medo  e escreve uma  carta  ao  Rei,  que leva o  pai  de Boj para recuperação. Este filme é passado em  mostras infantis,  para que as crianças da Noruega  se estimulem  a denunciar a violência que sofrem  em casa. No  entanto, a figura de um Rei  que não  só proteje a  criança como  ajuda o  pai  a se recuperar da sua natureza violenta é  algo  um  tanto  surreal  pra se pensar aqui  no  Brasil. Primeiro,  porque  não  há denúncia,  e se há,  não surte efeito. Segundo,  que a  única  ação  plausível  é  a punição,  e por essa razão  muitas denúncias não  acontecem. Essa ideia de que o  mal  pode ser transformado  não ecoa nos nossos ouvidos.  Pro brasileiro, o  mal  é  combatido  com  mais mal,  e esse círculo  se alimenta  infinitamente.

Belfast Trio

Filme selecionado para a programação do Festival


Redmond Entwistle
Inglaterra, 2009
9' - Cor
35mm
Sequência de três filmes de três minutos que podem ser exibidos em qualquer ordem. Cada filme é parte de um quebra-cabeça que forma o todo.

* Selecionado para, Int. Film Festival Rotterdam, Roterdã, 2010


Talvez por  uma série de problemas com  a projeção,  não consegui  entender esse filme.  No  início o  filme estava sem som  e ficou um  tempão  passando  assim,  até que o  nível de irritação  da plateia foi  tamanho  que ninguém  mais conseguiu  se concentrar, quando  finalmente,  depois de uns 10  minutos,  conseguiram  sincronizar  película e som.  O fato  é  que por essa razão ou  não,  não  entendi  e não  gostei  do  filme,  não  fez sentido . Era algo  sobre  construções antigas em  Belfast,  mas não  consegui captar a essência de nenhum  dos três filmes,  muito  menos estabelecer relações entre eles.

Vlog

Filme selecionado para a programação do Festival


Mor Kaplansky, Yariv Barel
Israel, 2009
8' - Cor
Vídeo
Depois do que parece ser mais uma noite terrível, uma adolescente resolve finalmente fugir de casa. Ela leva sua câmera de vídeo e faz um vlog.

Filme de uma estudante que estava presente na sessão. Garota visivelmente machucada por provável espancamento  paterno,  ao  que se deduz das imagens,  faz  um  video  desde sua saída de casa té o  meio do  caminho,  quando  retorna à casa. Depois descobre-se que era tudo  fake. É  só  isso  mesmo. Ok,  vou  dar um  crédito  à diretora,  acredito  que com  argumentos mais  bem  usados ela vai  conseguir fazer curtas mais interesantes. Pra um trabalho  de faculdade (não de graduação),  está ok.

Babcia wyjezdza / Vovó se foi


Tomasz Jurkiewicz
Polônia, 2009
18' - Cor
35mm 

Jurek é um mentiroso compulsivo, mas logo sua habilidade para inventar coisas se tornará muito útil.


* Melhor filme, VII Asiana International Short Film Festival, Seul, 2009 / Melhor filme, VI Wegiel Student Film Festival, Katowice, 2009 / Melhor filme de estudante, International Film Competition "Zubroffka", Bialystok, 2009 / Prêmio Publicidade, XVI IFF Etiuda&Anima, Cracóvia, 2009 / Prêmio Centropa, V Fresh Film Festival, Karlovy Vary, 2009


História bonita sobre rapaz que perde a avó subitamente,  que é  a única que  parecia se importar com  ele. Talvez por isso mentisse tanto. 

Jade


Daniel Elliott
Inglaterra, 2009
15' - Cor
35mm 

Jade, às voltas com um dilema criado por ela própria, luta para escolher o caminho correto.


* Urso de Prata, 59th Berlinale, Berlim, 2009 / Best European Short Film, 30th Villeurbanne International Film Festival, Villeurbanne, 2009 / Best Short Film, 7th Imaginaria International Film Festival, Conversano, 2009 / Special Jury Prize, 24th Odense International Film Festival, Odense, 2009 / 2nd Prize Best Short Film, Cellu l'art%u2019 International Film Festival, Jena, 2009

Um  filme meio  sem  pé nem  cabeça que demora a mostrar sua verdadeira natureza cruel,  que é o  incesto.


41


Massimo Cappelli
Itália, 2010
18' - Cor
35mm

Este foi  um  dos melhores curtas que já vi,  não  só  dessa mostra como  de todas que me lembre.  História extremamente original  e bem  contada,  levando  a  um  estado crescente de tensãoe curiosidade,  até  o  desfecho  inesperado.  Apaguei  a sinopse porque é  spoiler,  e acho  que todos deveriam  ver este filme.
A história se  passa  dentro  de um  museu. Um visitante está ouvindo  a biografia dos autores das diversas  obras de arte,  digitando  o  número  de cada obra. Até  que vê um  número  numa sacola de outra pessoa e digita este número  no  audioguia. O  que se sucede daí  em  diante é  fantástico.
 Este filme ficou eentre os 10  mais votados pelo público  da Mostra deste  ano,  merecidamente.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Festival de Curtas - Internacional 5

Essa  foi uma sessão daquelas que na hora não  gostei  muito,  mas o  efeito  colateral  dos filmes parece ter sido  mais interessante que a impressãso  momentânea. filmes que que realmente merecem  ser escritos para que não  se percam no  tempo. O tema nessa sessão  é  a incomunicabilidade humana.

Ich bin's Helmut / Eu sou Helmut



Nicolas Steiner
Alemanha/Suíça, 2009
11' - Cor
35mm
Helmut faz 60 anos. Na verdade, ele só tem 57, mas sua esposa errou nas contas. Enquanto a vida doméstica desmorona, velhos amigos chegam para confrontá-lo com o passado — uma declaração bizarra de amor à transitoriedade.

Este foi  um  filme que  tinha um  toque nonsense que me  irritou um pouco  na hora,  mas depois  pensando  no  todo  fez sentido  com  a história. O  desmoronamento  da vida de Helmut é retratado  metalinguisticamente  com  o  próprio  ambiente cinematográfico  sendo  desconstruído.  Primeiro  a casa,  depois a cidade e o  que sobra é um Helmut sozinho  no  campo  com  as lembranças do  passado. Éuma retrospectiva de sua vida contada de uma maneira muito  criativa.  Eu devia estar muito  de mau  humor nesse dia,  pensando bem  esse filme tem uma sacada  bem legal.

Aristera Dexia / Esquerda Direita


Stavros Raptis, Argiris Germanidis
Grécia, 2009
14' - Cor
35mm

Dois estranhos que vivem em apartamentos vizinhos passam uma noite juntos.


* Melhor filme balcânico, Filmini Int. SFF, Sofia, 2009 / Menção especial, Thessaloniki SFF, Thessaloniki, 2009 / Menção especial, Cinema Tous Ecrans, Genebra, 2009 / Melhor fotografia, K3: International Short Film Festival, Villach, 2010

É impossível  ver este filme e não se lembrar da estética  e linguagem do  grande mestre do  cinema   balcânico,  Theo  Angelopoulos, diretor do  lendário  Paisagem na Neblina. 
A fotografia cinza-azulada,   os  planos longos e silenciosos, a história que vai se desenrolando  lentamente,  sem  diálogos, tudo  lembra o  diretor famoso, apesar de a linguagem  deste filme ser um  pouco  mais ágil  pelo  próprio  formato curta. Homem tenta dormir e é acordado pela vizinha ligando o  aspirador. Ele  vai  reclamar com  ela e  fica trancado  pra fora de seu apartamento. A vizinha o  acolhe gentilmente,  por caridade, e assim  eles passam  a noite juntos,  por obrigação. Dois seres  solitários  compartilhando  suas solidões,  sem contudo as mesclarem.  Aos  poucos o  homem  vai  buscando  seu  espaço  naquele apartamento gélido e vazio,  mas o  limite é   própria incapacidade  de ambos de lidar com suas barreiras interiores.

Handelse Vid Bank / Incidente no Banco

Filme selecionado para a programação do Festival


Ruben Östlund
Suécia, 2009
12' - Cor
35mm
Recriação bem-humorada de um assalto fracassado, em plano-sequência. Um estudo das ações e reações das pessoas.

* Urso de Ouro (Melhor Curta), 60th Berlinale, Berlim, 2010

Filme bem  engraçado  sobre um acontecimento  aparentemente real  ocorrido  na  Suécia,  contado  sob o ponto  de vista de dois transeuntes que observam  toda a cena. Toda a sorte de acontecimentos bizarros vão  passando pelo lado  de fora do  local  do  assalto,  desde o  início com os assaltantes  atrapalhados.   Um  velhinho  que se arrisca observando a cena de perto,  um  carro  alegórico  passando   de tempos em tempos em  frente  ao  local, até  o  final  em  que os policiais conseguem  deter os dois assaltantes. Só vendo  mesmo pra dar umas risadas,  é muito hilário.

Schonzeit / Fim da temporada


Irene Ledermann
Suíça, 2009
20' - Cor
35mm
Os irmãos Oli e Jan se veem diante da ausência dos pais. Enquanto o mais novo se isola em seu próprio mundo, o mais velho tenta compensar a perda.


* Melhor curta, Filmfestival Max Ophüls Preis, Saarbrücken, 2010

Filme bonito  voltando  ao  tema principal  do  Festival  que  foi  o abandono infantil.  O menino  mais novo  tem  uma dificuldade tremenda para continuar levando  a vida com  a ausência real da mãe  que morreu,  e com  a incapacidade do  pai  para lidar com   situação  de ter dois filhos pra cuidar. O  herói da história é o  irmão  mais velho,  um  adolescente duns 15 anos,  que tenta desesperadamente preencher o papel  de pai. É sobretudo  uma história de amor incondicional  fraterno.

Petite anatomie de l'image / Uma pequena anatomia da imagem


Olivier Smolders
Bélgica, 2009
21' - Cor
35mm
No final do século 18, artistas florentinos reproduziam em cera os corpos dissecados pelos cirurgiões. Da mesma forma, o filme cria imagens com cortes, enxertos, dissecações
* Melhor filme (Mostra Labo), Festival du Court Métrage, Clermont-Ferrand, 2010

Curta experimental  em  cima de imagens de corpos em  cera dissecados.  Todo  tipo  de efeito  de imagem é aplicado,  com duplicações, cortes,  distorções, etc. Seria legal  se tivesse durado  5 minutos,  mas realmente depois disso  ficou muito  repetitivo  e cansativo.

7.57 AM-PM


Simon Lelouch
França, 2009
10' - Cor
35mm
Em 25 de maio de 2009, Renaud Capuçon decidiu participar deste filme interpretando uma obra-prima de Gluck "A Melodia de Orfeu" na linha 6 do metrô de Paris. Dois dias depois, ele lotou um concerto no Theatre des Champs-Elysées.

Este filme certamente salvou essa mostra,  não  só pela lindíssima interpretação  de Capuçon como  pela maneira que essa história foi  contada. Esse fato  foi  repetição  do  que aconteceu  com  Joshua Bell no  metrô de Nova Yorque  um  ano  antes. Este grande músico  da atualidade tocou por duas horas e recebeu alguns trocados,  e pouquíssimas pessoas pararam para observá-lo.  A  mesma situação  foi  transposta  para Paris e  transformda num  curta fantástico. As imagens de Capuçon  tocando  são  alternadas com seu  concerto  no Teatro,  e o  momento  mais sublime  é  quando  dois cegos se aproximam  e  observam  o  músico.  É  necessário  se privar de um  sentido para valorizar  a sua escuta interior ? Este filme mereceu  os  prêmios que ganhou,   tanto quanto  merece reconhecimento  o  músico  que ali  interpreta a si  mesmo.

* Prêmio do Público (3º lugar), Festival du Film de Sarlat 2009, Sarlat, 2009 / Cavalo de ouro, Festival méditerranéen des nouveaux réalisateurs de Larissa - 2010, Larissa, 2010 / Prêmio do curta metragem, COL - COA (City of lights, City of Angels), Los Angeles, 2010

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Festival de Curtas - Internacional 6

Esta foi  uma mostra com  nenhum  filme realmente ruim  e  um  realmente muito  bom,  talvez  o  que eu  mais  tenha gostado de todos desse ano :  A Ponte.  Apesar deste filme não ter entrado  nos melhores eleitos pelo público,  pra mim  foi  inesquecível.  O  assunto  dessa mostra,  salvo  o  filme australiano,  foi  a relação homem-mulher.

Verónica / Verônica


Ricardo Oliveira, António Gonçalves
Portugal, 2010
17' - Cor
Vídeo
Zé trabalha numa pensão à beira da estrada, no Alentejo. Uma noite, num churrasco na pensão, duas mulheres em viagem, um novo traficante de drogas na região e um vestido confrontam Zé com um passado indesejado.

* Melhor Curta Metragem, Shortcutz Lisboa, Lisboa, 2010

Bom  curta.  O  filme começa com  o  protagonista em  um  quarto  de hotel, olhando  pela janela,   e  sobre   a  cama  de casal,  um  vestido  de mulher. A história vai  girar em  torno  desse vestido.  Boa narrativa.

Guven Bana / Confie em mim


Nazli Elif Durlu
Turquia, 2009
9' - Cor
Vídeo
Uma garota toma um táxi à noite e o motorista faz um caminho estranho. Achando-o suspeito, ela pula do táxi em movimento. O taxista, porém, desce antes que ela possa fugir, ofendido com a desconfiança. Os papéis então se invertem.

* Special Mention, Akbank Short film festival, Istambul, 2010 / Best Short Film, Film Festival Turkey / Germany, Nuremberg, 2010 / Best Short Film, Ifsak- Short Film Competition, Istambul, 2010

Esta foi  uma das melhores sinopses e não  tenho  muito  mais  a acrescentar,  salvo  que se trata de mais  um  filme que me faz  pensar como  é ruim ser mulher, às vezes. Eu  no  lugar na moça teria feito  o  mesmo,  afinal  o  taxista realmente fez um  caminho  diferente e não  foi  nada simpático.  É ruim se sentir frágil  e com  medo. Homens têm  muito  menos a temer nessas situações.

The Bridge / A ponte


Philipp Wolter
EUA, 2009
16' - Cor
Vídeo 


Um homem coreano, afastado da filha depois da perda da esposa, misteriosamente se vê retornando ao mesmo ponto enquanto atravessa a ponte. Apenas sua própria consciência finalmente o levará ao outro lado.

* Best Short Narrative, Athens Internation Film Festival, Athens, OH, 2010

Aí  está  meu  predileto na mostra,  e não  há  o que escrever que  possa traduzir como  este filme me tocou.  Quando  atravessa a ponte, o  coreano  vê várias vezes  um  mesmo  morador de rua sentado  num banco.  Num determinado ponto,  o  olhar que este morador  lança ao  coreano  atravessa  a tela , me atinge e eu  começo  a chorar. O  que pode explicar isso ?  Qual  é o  poder que o cinema tem  sobre nós ? Não  há diálogos,  não  há música,  há apenas um  olhar de um personagem pra outro,  numa história de ficção. E este momento  virou imortal.

Mandarin Peel / Casca de tangerina


Anna McGrath
Austrália, 2009
4' - Cor
Vídeo
Duas garotas exploram sua amizade e a alegria de uma tangerina suculenta na árida paisagem australiana.


* Selecionado para, 63º Festival del Film, Locarno, 2009

Curta com  cara de trabalho  de   graduação  de estudante de cinema,  com  um roteiro  meio  estranho  que parece que foi  pensado  enquanto  se rodava o  filme,  pra ter  algum  elemento  de conflito  que justificasse a história. O  bom é  que foi  curto e por isso,  não  doeu  tanto.

Simon vagyok / Eu sou Simon


Tünde Molnár
Hungria, 2009
11' - Cor/P&B
Vídeo
Simon passa o tempo todo com os amigos apostando corridas até que um deles se machuca...
* Melhor animação, Festival du Cinéma Européen, Lille, 2010 / Melhor filme de estudante, Anifest, Teplice, 2010 / Melhor animação em comp. gráfica, Zlin Dog Festival, Zlin, 2010 / second place, Emergeandsee media arts Festival, Berlim, 2010 / 2nd Award - National Audiovisual Institute Award - The Silver Pegasus, Animator Festival, Poznan, 2010

Ótima animação com  traços muito  bonitos,  e  um  cão  com presonalidade de humano.  Bela história,  mereceu  meu  conceito  alto.

Marisa


Nacho Vigalondo
Espanha, 2009
3' - Cor
Vídeo
Todas as mulheres são Marisa, mas Marisa é apenas uma.

Este é o típico  curta que provavelmente eu  nunca mais me lembraria se não  estivesse postando  aqui. O  grande mérito,  ao  meu  ver,  foi  ter filmado  e editado imagens de umas 50  a 100  mulheres que se revezavam no  papel  das mulheres que passaram pela vida do  narrador,  tudo  pra dizer que todas as mulheres são  iguais,  e mesmo  assim,  os homens  não  conseguem as  entender.

Vaghty hame chiz tamam mi shavad / Tudo chega ao fim


Shahram Mirab Aghdam
Irã, 2009
10' - Cor/P&B
35mm
Farangis e Javanshi, um casal que vive junto há muito tempo, está comemorando o aniversário de Farangis. Isso leva a uma nova maneira de contar a história deles.

Com toda  a pinta de ser uma história real,  este curta conta a a história de vida desse casal  pelo  ponto de vista dos  dois.  Argumento  bom,  porém  com  umas opções estéticas um  tanto  duvidosas,  e um  pouco  chato.

Di Me Que Yo / Diga-me que eu

Filme selecionado para a programação do Festival


Mateo Gil
Espanha, 2009
15' - Cor
35mm
Ele e ela acabam de terminar seus relacionamentos. Desconhecidos podem ter uma conversa cheia de recriminações mútuas, discutir até gritar e finalmente se reconciliar como se fossem um casal?

Isso  foi  exatamente o  que aconteceu. diálogos muito  bons,  praticamente uma sessão  de terapia. Só  o  final  que foi  um  pouco  over,  mas ainda assim  um curta bem interessante. Me lembrou  um  pouco  o  filme Antes do  pôr do  sol, continuação   de Antes do Amanhecer.

sábado, 28 de agosto de 2010

Festival de Curtas - Aires Argentinos

 Como tenho  uma certa simpatia pelo  cinema  produzido  pelos  Hermanos, a despeito  dos últimos acontecimentos envolvendo  assuntos futebolísticos, pelos quais não  tenho  o  mesmo  interesse, fui  conferir  essa sessão  na Cinemateca,  e não  me arrependi. O primeiro  filme é  de 1960  e os outros são  bem recentes,  e todos foram  bons.  Seguem  aquela linha simpática do  cinema argentino,  com  temas prosaicos  sobre acontecimentos corriqueiros e alguns toques de surrealismo.

EL AMIGO / O AMIGO


Leonardo Favio
Argentina, 1960
10' - Preto e Branco
Vídeo
O desejo de um menino sobrevive à dura realidade que o cerca.

In  lindo  filme mostrando  que a arte de fazer um  bom  filme independe da  evolução  tecnológica.  Menino engraxate num  parque de diversões  faz amizade com  um  menino rico que está no  passeando. A  amizade e relaçao  entre os dois  supera as diferenças  sociais  a ponto  de se confundirem  os papéis.

AL SOL EN BICI / PEDALANDO RUMO AO SOL


Grupo Humus
Argentina, 2006
15' - Cor
Vídeo
Uma pequena cidade espera um eclipse muito especial.

* Mencion Especial, Festival Internacional de Cine de Mar del Plata 2007, Mar del Plata, 2007 / 2º Premio, Telefe Cortos, Bs As, 2006 / 1º Premio, 29° FESTIVAL DE CORTOS UNCIPAR, Villa Gesell, 2007

Comédia  muito  boa sobre o  dia  em  que uma cidadezinha espera o  grande momento  do  eclipse solar. Diversas  personagens  são  mostradas,  desde  uma senhora acamada cujos  familiares fazem de tudo  para que ela consiga presenciar o  fenômeno de sua cama,  até o   radialista local,  que vai  narrando  os acontecimentos do  dia  até  a  tão  esperada hora.



EL EMPLEO / O EMPREGO


Santiago 'Bou' Grasso
Argentina, 2008
6' - Cor
Vídeo
Um homem percorre seu trajeto usual para o trabalho, imerso em um sistema no qual o uso de pessoas como objetos é parte de sua vida cotidiana.

Ótima  animação com  traços de mestre,  sobre um  mundo  em  que as pessoas substituem  objetos e máquinas nas mais variadas funções. Nos faz refletir sobre nosso  papel  na sociedade.

50 AÑOS EN LA LUNA / 50 ANOS NA LUA

Filme selecionado para a programação do Festival


Mariano Santilli
Argentina, 2009
23' - Cor/P&B
Vídeo
A conquista da Lua vista em tom politicamente incorreto e a partir de um mundo quase virtual. Um curta-metragem contestador, entre Méliès e Guy Maddin.

Um curta muito  legal  com  uma estética meio cortina de Ferro,  o  que me fez pensar  equivocadamente que  era dos  anos 80.   em  2020,  Um  homem  obcecado  pela Lua   constrói  seu próprio  foguete para fazer a tão  sonhada viagem,  e  contrata um  técnico  em  TI  para auxilá-lo  na empreitada,  da Terra.

EL PASEO / O PASSEIO


Pablo Barbieri
Argentina, 2009
10' - Cor
35mm
Pai e filho passeiam por um parque às margens do Rio da Prata. O garoto quer brincar. Depois de apostarem uma corrida, de repente o pai desaparece.

Um  belo  curta  que  mostra os momentos de desespero  do  menino  ao se ver perdido  no parque,  sem o  pai. É filmado  em tempo  real  de diversos ângulos e tomadas,  e o  garoto  é realmente espetacular,  age com  uma naturalidade tão  grande que nos faz pensar  que ele não sabe que está sendo  filmado,  e de fato,  se perdeu.

AMOR AUTOADHESIVO / AMOR AUTO-ADESIVO


Leticia Cristoph, Pablo Barbieri
Argentina, 2007
10' - Preto e Branco
35mm
Dois estranhos se conhecem em um bar e depois de dormirem juntos pela primeira vez soltam uma substância que os cola para sempre. Qual o limite desse amor auto-adesivo?
Este foi  o  tipo  de filme que pode até ser previsível  e  um  pouco  bobo,  mas depois  nos leva a pensar. A metáfora da substância  que  nos gruda a outra pessoa e que  é difícil  de desprender,  quando  existe a separação,  deixando  marcas depois,  é muito  boa,  afinal  quem  consegue sair incólume de um relacionamento, por   mais  curto e fugaz que seja ?

TORO VERDE / TOURO VERDE

Filme inscrito para o festival e presente no nosso banco de dados


Laura Duran
Argentina/Letônia, 2008
15' - Cor
35mm
O Vesgo herdou de seu pai a mesma paixão pelos Torinos. Ele trabalha na tapeçaria de Giménez, um velho que o maltrata. Um dia surge Moyano em um Torino Verde, o carro que mudará sua vida.

Um  bom  curta com  uma historinha tradicional  e um  final  um pouco  surpreendente,  meio  ao  estilo  filmes anos  90  como  Amores Perros   ou  Mentiras, Trapaças e ois canos fumegantes,  e outros  do  gênero.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Festival de Curtas - Internacional 8

Esta foi a seleção  mais  pesada das que vi,  no  sentido  de filmes fortes,  com temas difíceis e situações angustiantes. Depois  do  segundo  filme tratando  de sofrimento  infantil eu  estava quase levantando  e indo  embora,  mas resisti  e valeu  a pena. A maioria dos filmes,  apesar de fortes,  eram  bons. Aliás em  todos as outras mostras internacionais o  que me chamou atenção  foi  a quantidade de filmes falando  de  sofrimento  infantil,  seja por  abuso  de qualquer tipo ou  por situações  de acidentes.  Parce ter sido  a tônica desse festival.

Ezra Rishona / Primeiros socorros


Yarden Karmin
Israel, 2010
15' - Cor
35mm
Um dia antes de seu casamento, Shai visita Tamar, sua ex-namorada, para um último encontro ardente. Mas Shai fica com a marca de um chupão, complicando a situação.

* Competição oficial, Festival International du Film de Cannes, Cannes, 2010 / Best Short Narrative Film, Jerusalem Film Festival, Jerusalem, 2010



Historinha bem  filmada que começa com  uma tórrida cena de sexo.  O  desenrolar é  ao  mesto  tempo  engraçado  e  meio  esquisito,  pois  a desculpa para aparecer com  o  chupão  no  casamento  acaba desencadeando  outra escoriação no  rapaz. No  fim  fica aquela impressão de que  o  rapaz pagou seu preço  pela " escapada"  às vésperas do  casamento ; A  ex realmente deixou suas marcas nele.


The Mill / O Moinho


David Freyne
Irlanda, 2009
10' - Cor
35mm
Enquanto acampa com a família perto de um moinho destruído, um garoto acorda em sua barraca e descobre que está totalmente sozinho.

Filme  que tem  um  clima de suspense o  tempo  todo,  com  cenas na floresta muito  angustiantes  e a câmera  na mão   o  tempo todo,  o  que me  gerou  até uma certa náusea. Bom  filme,  mas foi  um dos pesados que eu  não  veria novamente.

Ett Tyst Barn / Uma criança silenciosa


Jesper Klevenas
Suécia, 2010
12' - Cor
35mm
Uma garotinha está brincando na creche. De repente, ela cai e bate a cabeça, mas não chora nem grita. Os pais se preocupam, mas logo a rotina se instala novamente.

Este  foi  o  mais  trash de  todos. Menininha  de uns 3 anos  é  a atriz  principal. Ela é  tão  quietinha que nem  quando  se machuca  chora ou  se queixa. Dá pra imaginar  qual  o desfecho  da história.  Filme que  tem  um  tempo  morto  real  muito  bem  utilizado,   mas que causa uma angústia  daquelas na gente.

Norit Krupi / Como engolir um sapo


Jurgis Krasons
Letônia, 2010
10' - Cor
35mm 

Os "redondos" viviam numa cidadezinha. Eram inteligentes, gentis e bem-sucedidos. Tudo porque engoliam sapos. Mas os "quadrados" também moravam lá. Eram pragmáticos e realistas. Até descobrirem que os "redondos" engoliam sapos.


* Selecionado para, Festival de Cannes, Cannes, 2010

Excelente  animação pesadíssima,  que mostra  pessoas engolindo  sapos  literalmente cada vez  que se defrontam  com uma situação  de impotência perante uma adversidade ou  injustiça.  Cheio de  metáforas,  como   uma família  toda que perde as  orelhas  (talvez  para não  ouvir,  e assim  se poupar ? ).

A Perm / Uma permanente


Ran-hee Lee
Coreia do Sul, 2009
18' - Cor
Vídeo
Assim que Loan chega à Coréia para morar com seu marido coreano, sua sogra a leva logo a um salão de beleza para que lhe façam uma permanente.

* Prêmio do Júri, 26th Hamburg Int. SFF, Hamburgo, 2010 / Selecionado para, 60th Berlinale, Berlim, 2010

Outro  filme falando  sobre exploração  do  ser humano,  no  caso  uma  moça que é  vendida para um  casamento. A permanente  a que  ela se submete  é  tmabém  uma alusão  à sua situação  de vida dali pra frente,  permanentemente conectada a  um  marido  que não  escolheu  e a uma sogra que  decide o  que ela deve vestir  ou  fazer para agradar o  filho. 

Stretching / Alongamento


François Vogel
França, 2009
4' - Cor
Vídeo
Um retrato peculiar de ginástica urbana, com exercícios rítmicos praticados nas ruas de Manhattan. A arquitetura ao redor se funde com a dança, compartilhando sua alegria.


* Menção especial do júri, Vidéoformes, Clermont Ferrand, 2010 / Prix du GNCR(Groupement National des Cinémas de Recherche), Festival du film court “Côté court”, Pantin, 2010 / Melhor curta experimental, Expresión en Corto, San Miguel de Allende, 2010


Filme experimental   interessante,  cheio  de  efeitos de imagem  e uma música bem interessante. Na medida.

Tre Ore / Três horas


Annarita Zambrano
Itália/França, 2010
12' - Cor
35mm
Roma nos dias de hoje. Um pai é condenado por assassinato, a filha lhe fala com franqueza . O rio Tibre que divide a cidade vai unir a vida deles... durante algumas horas à tarde.


Mais  um  filme ótimo  sobre uma  conversa de uma  adolescente com  seu pai  que está preso.  O  título se refere ao  tempo  que ele tem para este encontro-redenção. Ele explica por que está preso  e  conversam  sobre a vida,  o futuro,  a mãe,  os  paqueras. O  pai  mesmo  preso quer ser presente,  e procura passar a sensação  de proteção  à sua filha.  Muito  bem feito  e filmado.  Desfez um  pouco  a má impressão  e aliviou um  pouco o  clima,  embora com  este tema tivesse tudo  pra ser mais um  filme pesado.


 

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