Ontem, dia de Natal, fui assistir a este excelente filme argentino que foi um dos indicados para filme estrangeiro do Oscar 2013.
Tem uma reportagem na Folha que fala sobre este filme e relata produções sobre o mesmo tema, Infância e ditadura militar, produzidos no século XXI, e que eu tive o privilégio de assistir todos, que são maravilhosos, sem exceção, cade um à sua maneira. Inclusive eu escrevi um post sobre o Machuca em 2005, no primeiro ano do Blog (na época que eu escrevi com certa regularidade).
Embora eu seja suspeita, pois até hoje não teve um filme argentino que assisti e não gostei, o "Infância" superou minhas expectativas. O meu termômetro pr saber o quanto um filme me agradou é quantas vezes eu vejo as horas no meio do filme e quanto tempo demora ora que isso aconteça, e no Infância eu só fui checar as horas bem no finzinho do filme, o que considero bem tarde pros meus padrões. Se o filme é ruim , na primeira meia hora eu já estou pegando o celular. Se é bom, geralmente após a primeira hora eu dou uma olhadinha.
A história é contada sob a ótica de um menino de uns 11 anos, Juán, sobre a trajetória de exílio e luta guerrilheira dos pais, e sua adaptação às diversas fases de sua vida, desde os anos de exílio, longe dos pais, até o retorno à Argentina nos anos de chumbo da ditadura, quando precisa mudar de nome e identidade para viver em segurança. Juán vira Ernesto que tem passaporte falso, e convive com as ações guerrilheiras dos pais e tio. Transita entre esse mundo de ideias libertadoras, aos quais é sensível, e seu próprio desenvolvimento pessoal e emocional.
Uma das coisas bacanas do filme é que, apesar de ser contado sob a ótica de uma criança, ele não poupa o espectador da realidade nua e crua da ditadura, porém usa um recurso muito interessante que é o uso quadros de animação tipo quadrinhos de adultos para retratar essas cenas, o que tira um pouco da dureza da situação, sem deixar de retratá-la com seu devido realismo. Normalmente os filmes que abordam essa temática acabavam não mostrando cenas de violência, ou quando mostravam era de maneira bem suave, ou câmara lenta no final do filme. Acho que este senso de realidade do filme, sem chegar a ser cruel ao extremo e mostrar coisas que ninguém ia querer ver, é o ponto forte dele. Talvez por ser um filme autobiográfico, pois o diretor viveu estes anos de ditadura, então ele melhor que ninguém sentiu na pele o que foram aqueles anos. Interessante foi mostrar Juán consciente e ávido por saber de tudo que se passava, ouvindo por trás das portas discussões dos pais e reuniões de guerrilha, pedindo para lhe contarem tudo que se passava, apesar dos efeitos que isso causava no seu psicológico, demonstrados por cenas retratadas magnificamente por meio dos sonhos de Juán.
Acho que se já não houve, está na hora de algum curador organizar uma mostra com filmes sobre este tema, pois os que foram feitos na última década são belos exemplos deste período.
Nenhum comentário:
Postar um comentário