quarta-feira, 11 de maio de 2005

A vida é um milagre


11/05/2005

A vida é um milagre
Filme do iugoslavo Emir Kusturica começa  parecendo  ser um mosaico  de vários fragmentos de histórias e vai  delineando-se   em torno  de uma história de amor no  momento  em que estoura a guerra na Bósnia. O filme tem vários momentos surreais e é carregado nas  cores e na dinâmica das cenas com um  tom descaradamente felliniano. Começa com um carteiro se deparando com uma mula atravessada na linha ferroviária em construção. Essa mula irá nortear o filme todo, simbolizando a força do amor perante a energia da destruição.
O tal carteiro então anuncia ao povoado que os ursos irão tomar conta do território, outra metáfora para a iminente guerra. Em meio á ensaios da banda local, festas ao melhor estilo balcânico e esquetes completamente nonsense a guerra chega e a história começa a ter um enredo mais coerente.
Luka, o personagem principal, um engenheiro a princípio encarregado da construção da estrada de ferro que tornar-se-ia uma ponte entre o turismo das regiões circunvizinhas e posteriormente nomeado pelo comando de guerra guardião  dessa mesma linha, impedindo a  passagem  dos inimigos, vê o horror se instalar na sua terra e em sua vida privada com a inocência e o  otimismo  de um garoto nascido em meio ao sofrimento, e que sabe que  o milagre da vida se faz a cada instante, seja na transformação  de um ovo em um ser vivo, seja no  nascimento  do amor em meio às estratégias de guerrilha  e surgido  dentro  da  solidão  advinda do abandono familiar.
É um filme que faz pensar na dor e na beleza de viver...
 


[fabio] [http://contramao.zip.net]
vc viu o filme "Alguém para dividir os sonhos" ? de 1993. eu vi e amei

27/05/2005 14:40

[fabio] [http://contramao.zip.net]
nossa, parece muito bom este filme. se não me engano vi um trailler dele. quero ver, mas até chegar ao interior rsrsrs

13/05/2005 07:33

 

domingo, 10 de abril de 2005

Desde que Otar partiu



10/04/2005


Um filme francês dirigido por Julie Bertucelli que estréia aqui seu primeiro filme de ficção.
Conta a história de três gerações de mulheres vivendo na Geórgia, a matriarca Eka (protagonizada pela excelente atriz Ester Gorintin), sua filha Marina e sua neta Ada, uma jovem ansiosa por novas experiências de vida. Eka vive à espera das cartas e telefonemas que seu filho Otar, um médico que foi viver de operário na França lhe envia de tempos em tempos. Chegam notícias de Paris para Marina e Ada sobre Otar e elas têm que decidir como contar à mãe.
É um filme muito bonito que trata em primeiro plano das relações familiares e humanas, do eterno conflito de gerações. Em uma situação mais geral mostra a nós ocidentais habituados aos modus vivendi do capitalismo, com suas vantagens e desvantagens, um pequeno panorama do que é a vida em uma ex-república soviética.


Quando o filme começa temos impressão que se trata de um filme da época dos anos 60. As máquinas são antigas, os automóveis, verdadeiras caixas de latão retorcido, tudo tem um certo ar de mofo. Nos surpreendemos em ver que é um filme recente e que as pessoas ainda vivam assim em alguma parte do mundo dito civilizado. Os serviços públicos são precários, falta água, o telefone não funciona, o correio é extremamente moroso e burocrático. O desemprego é generalizado, o trabalho informal cresce (alguma semelhança?) e os empregos oficiais têm salários miseráveis, haja vista a decisão de Otar em trabalhar de operário na França, renunciando à sua profissão.
Embora o assunto seja pouco abordado no cinema uma vez que os países recém saídos do regime socialista têm uma produção cinematográfica incipiente, em parte explicada pela situação caótica de adaptação pela qual estão passando, esta questão mereceria uma atenção maior dos países ocidentais. Não vemos nos jornais como vivem os órfãos do comunismo. Recentemente eu vi na Mostra Internacional um filme sobre os catadores de lixo na Polônia e os novos mendigos do “capitalismo libertador”.

O mundo ocidental fecha os olhos para essa situação incômoda e prefere voltar a atenção aos eternos conflitos do Oriente Médio. O bloco comunista se não vivia bem antes, pior agora. O que vemos com esses filmes são países passando por uma situação social caótica e desalentadora. Os idosos e as pessoas de meia idade já não têm suas necessidades básicas de saúde e infra-estrutura asseguradas pelo Estado, uma vez que têm que competir em um novo mercado de trabalho regido por códigos que desconhecem. Por outro lado esse mesmo mercado se aproveita da falta de experiência e competitividade da população jovem, vivendo uma realidade com a qual estão se deparando pela primeira vez, sem o background das gerações anteriores, e impõe as regras do capitalismo selvagem, explorando a mão de obra barata e outra atrocidades que conhecemos bem. Daí o êxodo populacional e a explosão dos conflitos étnico-sociais.

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A partir daqui vou comentar sobre o desenrolar do filme e se você é daqueles pretende assistir sem estragar a surpresa (embora ela não seja um ponto crucial na trama e sim o que vem a partir dela) não leia por favor.

A notícia que chega de Paris para a filha e neta de Eka é que seu filho sofreu um acidente de trabalho (caiu de um andaime) e morreu. Mãe e filha ficam sem saber como dar a notícia à velha senhora, que vive contando os intervalos entre cartas e telefonemas que recebe dele. Resolvem então manter a farsa e continuar escrevendo cartas como se fosse o filho. O ponto crucial nessa relação é a questão ética: Estão certas de poupar a mãe do sofrimento do filho morto mantendo uma mentira, uma ilusão? Num certo momento Ada questiona sua mãe sobre o porquê dessa decisão, Uma cena forte de exposição dos demônios de cada um.
No fim do filme Eka resolve ir a Paris visitar o filho. Marina e Ada a acompanham, já de passagem comprada e com visto obtido, sem desfazer a mentira. Ela finalmente descobre por si própria o ocorrido e o que se segue é a grande surpresa do filme, a reação dela diante do fato. Ela sai grandiosa e dá um exemplo às suas descendentes. Uma lição de vida, de sabedoria, de humanidade. Eka nos ensina como passar pela vida nobremente e o quanto a experiência e idade são fundamentais na formação do caráter da pessoa.

segunda-feira, 28 de março de 2005

Frases de Machado

28/03/2005


" O cancro é indiferente às virtudes do sujeito; quando rói, rói; roer é o seu  ofício" ( Memórias  póstumas de Brás Cubas)
"A onça mata o novilho porque o raciocínio  da onça é que ela deve viver, e se o novilho é tenro tanto melhor: eis o estatuto universal "(Ibidem)

domingo, 27 de março de 2005

Votação
Ok, dou  a cara a bater. A lista de filmes que  venho assistindo  cada vez maior e  o blog desatualizado. Não vou dar a velha desculpa de falta de tempo porque todo mundo sabe que tempo  a gente faz. A questão é estabelecer prioridades, além de que  a minha auto-crítica em relação  ao que escrevo cresce em razão inversamente proporcional à auto-estima. Mas me propus a fazer isso e vou lutar contra as adversidades que  minha mente paranóica me apresenta a todo momento.
Resolvi  fazer a lista dos filmes que estão aguardando serem criticados. Não sei  se vou comentar sobre todos, deixo  a cargo  dos pedidos de vocês  leitores. Conforme os filmes  forem recebendo votos eu vou escrevendo sobre eles, certo?

FILMES NOVOS EM CARTAZ RECENTEMENTE 
Machuca (já está em andamento o post)
Abraço partido
Confidências muito íntimas
Desde que Otar partiu
Sideways

FILMES ANTIGOS  EM CARTAZ HÁ POUCO TEMPO
Amarcord do Fellini
Amores Parisienses do Alain Resnais
A Carreira de  Suzanne e
O Casamento Perfeito ambos do Eric Rohmer
Os Incompreendidos do Truffaut

Tem também   Festim Diabólico  do Hitchcock que vi em DVD a pedido do Dimmo, esse está no cladeirão apurando! Me aguarde...




[Daniel] [criticasecronicas@uol.com.br]
Não perde tempo, ataca de Truffaut. Não tinha visitado aqui ainda, manda bem!

19/04/2005 18:10

[Alex] [www.alexei.blogger.com.br]
Oi Luciana, eu voto pelo filme do Truffaut. Abraços

31/03/2005 22:09

[Gilberto Mendes]
Oi Lu. Seu blog é muito bom mesmo. Embora necessária, a sua autocritica crescente não tem fundamento. Quisera eu poder comentar (e portanto assistir) ao Machuca, por exemplo, com essa clareza e sensibilidade. Um beijo.

28/03/2005 10:45

Machuca


27/03/2005

Asissti a  esse filme durante a Mostra BR de cinema, em outubro de 2004. Agora em cartaz é bom ver as pessoas reconhecendo seu grande valor. Me surpreendeu ver um filme latino muito bem feito que não fosse argentino ou mexicano (nossos velhos conhecidos).


A história  começa  com um padre socialista trazendo as normas de igualdade pregadas pelo governo Allende para dentro  da escola que dirige. Ele coloca  garotos  de uma favela para estudarem gratuitamente com os bem-nascidos, lado  a lado na mesma sala. Ao apresentar-lhes à classe, pede que digam seus nomes. Um deles diz  baixinho: Pedro Machuca. O Padre pergunta: Hein?  Ele repete o nome. O padre insiste: Fale alto que nem eu nem ninguém lhe ouve assim. Ele então grita com raiva: Pedro Machuca!! O padre triunfante já lhe dá a primeira lição, ele deve se afirmar como indivíduo, sua voz deve brandir o que tem a dizer. Será que deve?
Essa é a pergunta que persegue durante o filme. Quem deve dizer o quê, e qual o momento? No tempo todo o que vemos é a ação oposta massacrante do silêncio em prol da conivência, do medo, da conveniência, da sobrevivência até, e os que  insistem em brandir seus nomes se machucam.

Gonzalo Infante, o garoto bem nascido  que faz amizade com Pedro Machuca conhece de perto a realidade da classe oprimida. Visita o barraco  de seu amigo, conhece o pai bêbado, acompanha-o com o tio às passeatas, ora as de direita ora as de esquerda, vendendo bandeirinhas conforme a ideologia defendida. Em sua casa convive com a  subserviência forçada em acompanhar a mãe às suas visitas ao amante que lhe traz produtos importados.

Machuca tem um significado real no fime. Machuca ver os favelados sucumbindo à força militar da ditadura Pinochet, machuca ver a burguesia mantendo sua situação, mas o machuca  mais é  ver soterrada a iniciativa  de se  tratar  como iguais seres que têm os mesmos direitos simplesmente porque são  feitos da mesma matéria.
Pedro e Gonzalo representam  essa dicotomia. No fim vemos que tudo não passou de uma sonho infantil desfeito sob uma bala de carabina.
 E essa ferida não sara.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2005

Reflexões do Ano Novo


07/01/2005

Reflexões do Ano Novo
Aí está 2005. Chegou finalmente, e com ele as invariáveis Resoluções de Ano Novo. Esse ano vou começar uma dieta, vou parar de fumar, vou mudar de emprego, entrar na academia, juntar dinheiro para reformar a casa, comprar um carro, estudar uma língua, fazer uma pós-graduação, comprar um cachorro, cultivar plantas, fazer dança de salão, ficar mais tempo com os filhos, comer menos besteira, arrumar um namorado, ter filhos, viajar para a Europa, me estressar menos, ser mais paciente, mais tolerante, vou fazer algum trabalho voluntário, vou xingar menos meu chefe e meu vizinho que ouve som no último, vou arrumar aquele armário que está caindo aos pedaços, pintar a casa...
Todo ano a mesma coisa. Assim que acaba a contagem regressiva e estouram os fogos, enchemo-nos de otimismo e confiança, pois dessa vez vai. O que passou, passou, ano novo, vida nova. As promessas e a firme crença no cumprimento delas nos faz seguir adiante e adentrar o ano com a coragem de um toureiro na arena.
Por que temos a necessidade de fixar uma data como ponto de partida para a tomada de decisões e atitudes? Neste caso, por que não escolhemos uma data qualquer do ano, 19 de maio, 5 outubro, 26 de fevereiro, 14 de agosto para iniciarmos um novo período de resoluções? Vou adiante, por que temos essa necessidade básica de estabelecer um marco divisório entre nossas aspirações e realizações efetivas?
Porque é difícil e doloroso pensar, fazer um balanço do que foi feito e do que foi proposto. É mais fácil passar uma borracha e começar tudo outra vez, vivendo a ilusão de que dessa vez vamos conseguir produzir um pouco mais. Quanto tempo da nossa vida perdemos em coisas sem sentido? Horas gastas sem fazer nada, pensando no que fazer (!) ou não fazer, naquela coisa chata que o colega disse, zapeando programas imbecis na tv, folheando revistas no consultório, batendo boca em discussões inúteis, navegando em sites duvidosos na Internet, escrevendo reflexões estúpidas em blogs que ninguém vai ler, e se ler também não vai fazer a menor diferença... Quantas horas perdidas nos shoppings, nos supermercados, nas lojas de rua, procurando coisas para comprar... porque eu preciso de uma bolsa nova, que combine com aquele sapato, para ir naquela festa. Eu tenho que comprar aquele eletrodoméstico, aquele parafuso que vai fazer funcionar a ferramenta que ajuda a montar o equipamento tal, com o qual vou realizar tal tarefa, que vai me servir... pra quê mesmo? Preciso comprar uma mesa nova, a minha tá caindo aos pedaços... eu tenho que trabalhar, ganhar mais dinheiro, para comprar outra casa maior e melhor, para poder ter mais coisas que vão fazer eu gastar mais tempo comprando outras coisas que me ajudam a gastar mais tempo sem fazer nada, sem pensar em nada, sem refletir o porquê de estar aqui.
Afinal, do que precisamos nós? O que estamos buscando nessa vida? Alento para suportar o peso que é existir, viver? Essa vida a qual damos tanta importância, a MINHA VIDA, MINHAS COISAS, MEUS PROJETOS, MINHAS INQUIETAÇÕES ... O que significa ela perante a infinitude do mundo? Somos menos do que formiguinhas, poeirinhas cósmicas, nossa vida existir ou deixar existir não fará a mínima diferença no fluxo do Universo. Nós nascemos e morremos sem deixar rastro. Vem um terremoto qualquer e leva 150 mil. Uma guerra e mais 200 mil... uma epidemia e lá se vão outros tantos. Qual o peso que atribuímos à nossa própria vida? Qual o valor que ela adquire em face da existência de outrem? Essas são as perguntas que deveríamos nos fazer a cada dia que entra, a cada ano que inicia, a cada minuto que vem e vai. Mas é muito mais fácil vestir a fantasia de “ SER HUMANO” do que ser humano de fato...