quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Infância Clandestina

Ontem,  dia de Natal,  fui  assistir a este excelente filme argentino que foi  um  dos indicados para  filme estrangeiro  do Oscar 2013.


Tem uma reportagem  na Folha que  fala sobre este filme e relata produções sobre o mesmo  tema,  Infância e ditadura militar,  produzidos no  século XXI,  e que eu  tive o privilégio de assistir todos, que são maravilhosos,  sem exceção,  cade um  à sua maneira. Inclusive eu  escrevi  um  post sobre o Machuca em  2005,  no primeiro ano  do  Blog (na época que eu  escrevi  com  certa regularidade).

Embora eu  seja suspeita,  pois até hoje não  teve  um  filme  argentino  que assisti  e  não  gostei, o "Infância"  superou  minhas expectativas. O  meu  termômetro pr saber o  quanto  um  filme me agradou  é  quantas vezes eu  vejo  as horas no  meio  do filme e quanto  tempo  demora ora que isso  aconteça,  e no  Infância eu  só  fui  checar as horas bem  no  finzinho  do  filme,  o  que considero  bem  tarde pros meus padrões. Se o  filme é ruim , na primeira meia hora eu  já estou  pegando  o celular.  Se é bom, geralmente após a primeira hora eu  dou  uma olhadinha.



A  história é  contada sob a ótica de um  menino de uns 11  anos, Juán,   sobre a trajetória de exílio  e luta guerrilheira dos pais,  e  sua adaptação às diversas fases de sua vida,  desde os anos de exílio,  longe dos pais,  até o  retorno  à Argentina nos anos de chumbo  da ditadura,  quando  precisa mudar de nome e identidade  para viver em  segurança.  Juán vira Ernesto que tem passaporte falso,  e convive com  as ações   guerrilheiras dos pais  e tio. Transita entre esse mundo  de ideias  libertadoras,  aos quais é  sensível,  e seu  próprio  desenvolvimento  pessoal  e emocional.

Uma das coisas bacanas do  filme é que,  apesar de ser contado sob a ótica de uma criança,  ele não  poupa o espectador  da realidade nua e crua da ditadura,  porém  usa um  recurso  muito interessante que é o  uso  quadros de animação tipo  quadrinhos de  adultos  para retratar essas cenas,  o  que tira um  pouco da dureza  da situação,  sem deixar de retratá-la  com  seu devido realismo. Normalmente os filmes que abordam  essa temática  acabavam  não  mostrando  cenas de violência,  ou  quando  mostravam  era de maneira bem  suave, ou  câmara lenta no  final  do  filme.  Acho  que este senso  de realidade do  filme, sem  chegar a ser cruel ao  extremo e mostrar  coisas que ninguém ia querer ver, é o  ponto  forte dele. Talvez por ser um  filme autobiográfico,  pois o diretor viveu  estes anos  de ditadura,  então  ele melhor que ninguém sentiu na pele o  que foram  aqueles anos.  Interessante foi  mostrar  Juán  consciente e ávido  por  saber de tudo  que se passava, ouvindo  por trás  das portas discussões dos pais  e reuniões de guerrilha,  pedindo  para lhe contarem  tudo  que se passava,  apesar dos efeitos que isso  causava no  seu psicológico,  demonstrados por  cenas retratadas magnificamente  por meio dos sonhos de Juán.

Acho  que se já não  houve,  está na hora de algum curador organizar uma mostra com  filmes sobre este tema,  pois os que foram  feitos na última década  são  belos exemplos deste período.