sexta-feira, 7 de janeiro de 2005

Reflexões do Ano Novo


07/01/2005

Reflexões do Ano Novo
Aí está 2005. Chegou finalmente, e com ele as invariáveis Resoluções de Ano Novo. Esse ano vou começar uma dieta, vou parar de fumar, vou mudar de emprego, entrar na academia, juntar dinheiro para reformar a casa, comprar um carro, estudar uma língua, fazer uma pós-graduação, comprar um cachorro, cultivar plantas, fazer dança de salão, ficar mais tempo com os filhos, comer menos besteira, arrumar um namorado, ter filhos, viajar para a Europa, me estressar menos, ser mais paciente, mais tolerante, vou fazer algum trabalho voluntário, vou xingar menos meu chefe e meu vizinho que ouve som no último, vou arrumar aquele armário que está caindo aos pedaços, pintar a casa...
Todo ano a mesma coisa. Assim que acaba a contagem regressiva e estouram os fogos, enchemo-nos de otimismo e confiança, pois dessa vez vai. O que passou, passou, ano novo, vida nova. As promessas e a firme crença no cumprimento delas nos faz seguir adiante e adentrar o ano com a coragem de um toureiro na arena.
Por que temos a necessidade de fixar uma data como ponto de partida para a tomada de decisões e atitudes? Neste caso, por que não escolhemos uma data qualquer do ano, 19 de maio, 5 outubro, 26 de fevereiro, 14 de agosto para iniciarmos um novo período de resoluções? Vou adiante, por que temos essa necessidade básica de estabelecer um marco divisório entre nossas aspirações e realizações efetivas?
Porque é difícil e doloroso pensar, fazer um balanço do que foi feito e do que foi proposto. É mais fácil passar uma borracha e começar tudo outra vez, vivendo a ilusão de que dessa vez vamos conseguir produzir um pouco mais. Quanto tempo da nossa vida perdemos em coisas sem sentido? Horas gastas sem fazer nada, pensando no que fazer (!) ou não fazer, naquela coisa chata que o colega disse, zapeando programas imbecis na tv, folheando revistas no consultório, batendo boca em discussões inúteis, navegando em sites duvidosos na Internet, escrevendo reflexões estúpidas em blogs que ninguém vai ler, e se ler também não vai fazer a menor diferença... Quantas horas perdidas nos shoppings, nos supermercados, nas lojas de rua, procurando coisas para comprar... porque eu preciso de uma bolsa nova, que combine com aquele sapato, para ir naquela festa. Eu tenho que comprar aquele eletrodoméstico, aquele parafuso que vai fazer funcionar a ferramenta que ajuda a montar o equipamento tal, com o qual vou realizar tal tarefa, que vai me servir... pra quê mesmo? Preciso comprar uma mesa nova, a minha tá caindo aos pedaços... eu tenho que trabalhar, ganhar mais dinheiro, para comprar outra casa maior e melhor, para poder ter mais coisas que vão fazer eu gastar mais tempo comprando outras coisas que me ajudam a gastar mais tempo sem fazer nada, sem pensar em nada, sem refletir o porquê de estar aqui.
Afinal, do que precisamos nós? O que estamos buscando nessa vida? Alento para suportar o peso que é existir, viver? Essa vida a qual damos tanta importância, a MINHA VIDA, MINHAS COISAS, MEUS PROJETOS, MINHAS INQUIETAÇÕES ... O que significa ela perante a infinitude do mundo? Somos menos do que formiguinhas, poeirinhas cósmicas, nossa vida existir ou deixar existir não fará a mínima diferença no fluxo do Universo. Nós nascemos e morremos sem deixar rastro. Vem um terremoto qualquer e leva 150 mil. Uma guerra e mais 200 mil... uma epidemia e lá se vão outros tantos. Qual o peso que atribuímos à nossa própria vida? Qual o valor que ela adquire em face da existência de outrem? Essas são as perguntas que deveríamos nos fazer a cada dia que entra, a cada ano que inicia, a cada minuto que vem e vai. Mas é muito mais fácil vestir a fantasia de “ SER HUMANO” do que ser humano de fato...