sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Vincere


Ontem  assisti  no  Cinesec a  este excelente  filme de Marco  Bellocchio.

Resenha de Alex  Xavier:
Antes de sua ascensão ao poder na Itália, o fascista Benito Mussolini (1883- 1945) foi um jovem manifestante socialista, já com certo talento para agitar as massas. Na época, envolveu-se com Ida Dalser, dona de um salão de beleza, que pagou caro por sua cega paixão pelo futuro ditador. O fascinante drama de Bellocchio (“Bom Dia, Noite”) revela o homem por trás do mito a partir do ponto de vista dessa mulher extremamente passional. Depois de vender seu negócio para financiar os ideais políticos do amante e de ter um filho com ele, a moça (interpretada por Giovanna Mezzogiorno) é deixada de lado para não atrapalhar a imagem impecável do líder. Por anos, ela permanece fiel a esse amor, apesar de Mussolini e seus comparsas fazerem de tudo para taxá-la de louca e apagar qualquer documentação que comprovasse o romance. A história, revelada em livro há pouco tempo pelo jornalista Marco Zeni, carrega detalhes sórdidos muito bem explorados. Chama atenção a visceral atuação de Filippo Timi, em dois papéis. Como o Dulce, ele consegue fugir do caricato. Mais tarde, o ator se transforma para viver o filho rejeitado, em performance angustiante.

Adorei  o  filme. Já havia visto  há  uns anos  o  Bom  dia ,  noite,  também  muito  bom. Uma marca registrada dos dois filmes é  a fotografia incrível,  transformando  cenas comuns  em  ambientes fechados esm  veradeiros quadros barrocos.  Uma fotografia que transforma a  dor  em  beleza,  a angústia  em  devaneio,  a destruição  da guerra em  poesia.

O  filme é  acima de tudo,  a história da  paixão  irracional de Ida por  Mussolini. Logo   na cena inicial,  Benito  enfrenta  um  grupo  de socialistas   expondo  sua descrença em  Deus,  e neste momento  Ida o  observa  e se fascina. Ela  foi  capaz  de   se desfazer de todos os seus  bens para financiar  o Jornal  de Mussolini,  que finalmente  o  levará à  consolidação  do  movimento  facista. Durante todos os anos  em  que esteve afastada de Mussolini  e seu  filho,  Ida nunca perdeu  a esperança de que um  dia ele  reatasse com  ela e reconhecesse o  casamento  e família,  que  nunca  foi  comprovado.  Ida  grita ao  mundo sua história,  escrevendo  cartas e cartas que são  jogadas ao  vento,  para fora das grades do  manicômio, e em  momento algum aceita desmenti-la em troca de  seu  atestado  de sanidade, conforme sugerido  pelo  psiquiatra do  manicômio. Em  suas palavras,  ele diz : "N a vida temos que ser atores,  e o  seu papel  de esposa do  Duce não  é o  que vai  te salvar neste momento,  e sim o  papel  da mulher  facista  recatada,   submissa".

O  Cinema dentro  do  Filme

Interessante é o  uso  do  cinema  antigo  na construção  do  filmer. Imagens  reais da ascenção  do  facismo  de da Primeira Guerra pontuam  bastante  oportunamente o  desenrolar da história.   Aliás  a metalinguagem  do  cinema está presente o  tempo todo  no  filme:  Ora  nessas imgens documentais,  que ilustram  e dão  bastante realismo  histórico,  ora  na  projeção  de   filmes  como  entretenimento,  presentes o  tempo  todo. Ida  passava muito  tempo  indo  ao  cinema,  e interessante  a homenagem  que o  diretor faz  ao  Cinema,  demosntrando  como  as  pessoas  frequentavam  as salas de projeção,  e o  envolvimento  emocional  delas com o  que se passava na tela.  Uma cena memorável  são  homens  vendo  imagens da revolução  e o  embate entre pacifistas e revolucionários dentro  do  cinema,  com direito  a pancadaria e  cantoria de hinos  revolucionários,  detalhe para  o  pianista que acompanha o  filme mudo,  impassível  tocando  seu  piano até o  fim.   Outro  momento  interessante  é  a projeçao  de um  filme  no  teto  do  hospital  onde estão  os  feridos de  guerra,  entre eles Mussolini,  com um  acordeonista acompanhando  o  filme. 

O Futurismo

Outra homenagem  e  referência histórica é ao  Movimento  Futurista,  criado  por FILIPO TOMMASO MARINETTI . No livro de poesias Guerra, a Única Higiene do Mundo (1915) ele comemora o início da I Guerra Mundial (1914-918) e pede a entrada da Itália no conflito. Em 1919, adere ao fascismo e torna-se seguidor de Benito Mussolini. No  filme há uma cena de Mussolini  vistanto  a exposição  permanente de pintura futurista em  Roma,  com  cenas  hilariantes dos pintores futuristas exaltando  a guerra.

Também  outra questão  levantada é  do  papel  da  Igreja no  fascismo,  e  do  envolvimento de Mussolini,  com  ela.  Outra frase do  psiquiatra bonzinho de Ida  é  que "A Igreja ainda é o  único  senhor que o  Facismo  teme", ou  algo  assim. O  mesmo  Mussolini  que renega Deus  sucumbe ao  poder da Igreja para conquistar  seu  objetivo,  Vincere.


 As atuações de Giovanna Mezzogiorno e de Filippo Timi  são  muito  boas. Este se sai  bem  tanto  como  o  próprio  Duce,  e melhor ainda interpretando  seu  filho,  Benito  Albino,  imitando  o  pai.  Por  mais que a semelhança física  do  ator  com  Mussolini  não  seja assim  um  ponto  forte,  sua atuação  explêndida salva  o  papel.  Enfim,  um  filme que merece ser visto  e um  diretor que  tem  tudo  pra ficar pra história,  como  os grandes mestres italianos.






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